quinta-feira, 19 de abril de 2012

O Sonho, Parte 2

O problema não vem quando acordo, por simplesmente lembrar de toda a dor e estar suando frio. Não dói mais os arranhões, as escoriações, os cortes… do que simplesmente saber que quando eu dormir, voltarei lá. Para além dos sonhos.

O Homem de Preto.

Estava sentado. Esperando aquele maldito brutamonte e a garota. Esperava aquele negro cor de ébano e fétido como cigarro em dia de chuva. Ele havia indo longe, até uma velha casa, sem nem muito que dizer. Não havia pergunta e então não houve resposta. Acho que isso nos torna bons amigos afinal.

As horas passavam, e a cidade ficava cada vez mais silenciosa. Era como estar num filme de terror. E teria rido disso, se não houvesse um cadáver nos meus pés. Um homem velho e uma senhora. Ambos mortos com um tiro na cabeça. Triste fim. E eu olhava aquilo tudo com muita simplicidade como se fosse um investigador de autópsia saboreando um novo crime. Talvez fosse. Lembrei então da violinista. Minha preocupação. O ébano havia ido buscar a garota. Que tinha se perdido, e agora, acredito que ele também se perdeu. Andei até um rancho próximo, analisei os cadáveres uma ultima vez sob as poucas luzes que iluminavam naquela chuva toda. Imaginei quanto tempo não se passara desde que morreram. Bastante, pensei.

Pensei no quanto tempo estava ali. Havia longo tempo desde o ultimo sono. Então deixei o corpo cair no chão, sentando sobre minhas pernas cruzadas em cima de um pedaço do sobretudo.

Pelas ruas passavam alguns carros, pessoas, como se nada houvesse ocorrido. Talvez a chuva dificultasse que os corpos fossem encontrados. Quase dormi ali mesmo, mas tive o sono interrompido.

-          Viu um homem negro, garoto? Perguntava um cara de seus quarenta anos e com a roupa um tanto dilacerada.

-          Bem que gostaria, porque? Houve algum problema?

-          Nada não, se os dois cadáveres ali não te espantam, acredito mesmo que nada não. – lançou seu melhor sarcasmo para mim.

-          Tinha mais desses  aí que lhe pegaram? Olhei para ele e aguardei.

-          Os zumbis? Matei os que estavam por aqui. Conhece o que esta acontecendo?

-          Infeccioso? Indaguei por cima da pergunta dele.

-          Não, acho que estou bem.

-          Posso ver?

-          O que?

-          Os ferimentos.

-          Porque?

-          Posso?

Ele então se virou um pouco, mostrando o ombro e vários arranhões e mordidas, nada bizarro, pois humanos não possuem tanta força pra dilacerar como outros animais. Apenas mordidas e arranhões leves. Nada grave, pensei momentaneamente. Analisei o homem um pouco para ver se ele reagia diferente. E nada me vinha a mente. Parecia que aquelas pessoas faziam aquilo não por algum vírus apocalíptico, parecia algo mais hipnótico. Macaiah diria algo concreto, diria que era serviço da mulher de vermelho. E eu teria acreditado e esperado o sonho terminar. Mas não pude. Estava preocupado com eles. Com só dois, o negro que cheirava a cigarro e com ela, Macaiah.

Sai daquele bairro, andando mais pelas ruas movimentadas. As pessoas agiam normais, o que parecia cada vez menos normal. O que me alertava de estar criando uma paranoia. Acelerei meus passos. Nada. Não havia nenhuma pista de onde ele havia passado. Segui andando. Não demorou mais que uns trinta minutos de caminhada pelas ruas para achar um posto vazio da policia. Estava a caminho da saída da cidade. Voltei um pouco e parei para olhar o mar pela lateral de uma pista que dava uma bela vista. Era noite e pouco era visível. Mas mesmo assim avistei um farol girando sua luz ao longo de uma enorme costa. E algo brilhou naquela direção, como um clarão rápido de um relâmpago. Já sabia o que fazer. Seguir.

Andando pela beira-mar descobri-me só. Fiquei mais calmo. Ouvia as ondas como uma trilha sonora para mais uma noite desagradável. Outros clarões vieram. Eu seguia tranquilamente. Saquei um cigarro, lembrei de alguém do passado, guardei-o. Cheguei então numa espécie de rochedo. Fui devagar, subindo, e aproximei-me do farol. Um homem caiu, na minha frente. Do céu. Ele era feio e desfigurado. Ficou ainda mais. Um jorro de sangue caiu segundo após. Mas doeu quando uns três pedaços grandes como uma mão, de vidro caíram no meu ombro, braço e pé. Caí. Mas ainda vi um negro no alto da torre. Escureceu. E houve a queda.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Contos de Ivalice



“Era tarde quando ainda escrevia minhas histórias neste caderno, pois estava inspirada,. Escrevia alegremente, escrevia sobre as noites no monastério de Hyral, escrevia sobre a comida boa, sobre o bom vinho, sobre todas as pessoas, sempre escrevo sobre meus dias, acho que um dia me ajudará a achar o que meu coração tanto busca.”

(Jovem Agrias Hyral)


“As relações diplomáticas entre as províncias não estão em bons pés, e algumas parecem querer dominar Ivalice para reinar como soberanas. As duas províncias mais envolvidas em conflitos até o presente momento são as províncias de Gallione e Zeltennia, que ficam localizadas nos extremos leste e oeste do continente, respectivamente. Com suas ordens de cavaleiros, os Hokutens e os Nantens, elas estão brigando para dominar o continente de Ivalice.

A província mais poderosa do continente, que é a província de Lesalia, ao centro, não queria se envolver no conflito, pois acha que cada província deve governar o seu espaço e não deve haver guerra, mas com os constantes ataques das outras duas províncias em seu território, ela se vê obrigada a intervir e fazer alguma coisa.”

(Escritos das prensas de Corona, Riovanes)


— Como pode nosso reino continuar assim? —pergunta Jacob Burlen à Orpheus, filho do rei Tellos.


— Não me olhe como estivesse a olhar para o teu rei Jacob, nem da mesma raça nós somos, como poderia eu ter algo a ver com isso? — diz Orpheus em tom de sarcasmo — Pergunte você a algum jornal local, talvez eles possam responder-lhe tais questionamentos filosóficos. — e após uma breve pausa, ele continua — A mim só pergunte sobre espadas e magias, do resto nem quero saber.


— Não ligas mesmo para teu pai, não é? — Questiona Jacob, com um tom que demonstra tanto pesar quanto compreensão.


— Realmente não me preocupam os assuntos dele, tanto que passei os últimos anos sem sequer vê-lo. — responde o príncipe, dirigindo-se à escrivaninha.


— Amanhã te formas como cadete, certo? Irei apresentar-te boas meninas se fores o melhor! — diz Jacob olhando para a bela noite através da janela da torre em que se encontram.


— Creio que teremos uma missão de graduação que iniciará amanhã. Podes adiar o teu presente? — Pergunta Orpheus, nem um pouco preocupado com o que o amigo lhe diz, já absorto em preparar suas estratégias de esgrima de modo meticulosamente calculado para a missão do dia seguinte.


Jacob dá um empurrãozinho em Orpheus e sai do aposento, que na verdade serve como o abrigo dos cadetes, meio que improvisado, mas ainda assim organizado e confortável. Orpheus logo se deitou, pois desejava estar descansado para a sua missão de graduação pela manhã.


Na manhã seguinte, o sol ainda estava nascendo quando Aelar encontra Hector no pátio. Aelar, um homem formoso, com seus vinte e cinco ou trinta anos, no máximo, cabelo curto, castanho como os seus olhos, corpo robusto, comum à grande maioria dos paladinos, de uma aparência honesta e digna, que dificilmente passaria despercebido em qualquer lugar, até mesmo a ponto de ser confundido com um nobre, devido ao seu porte altivo.


— Cedo, não? — inicia Hector um diálogo, tentando ser gentil ao seu modo. Ao contrário do porte e aparência de Aelar, Hector possui um rosto suave e jovial, cabelos negros curtos muito bem tratados, olhos de mesma cor e expressão levemente sarcástica. Sua manta negra esconde muito de seu corpo pouco atlético e sua fisionomia meio élfica.


— Um homem de fé precisa estar de pé bem cedo. — responde o paladino — mas não deixa de ser também um costume hereditário.


— Vejo que teremos também uma mulher de fé conosco — aponta Hector para uma moça, fazendo movimentos com uma espada que demonstram claramente que ela não sabe como manejá-la — Mas ela não parece estar de tão bom humor por ter acordado cedo, visto pelo aspecto carrancudo dela.


Os dois começam a observar a garota, bela, loira de um cabelo bem claro, comprido com uma enorme trança nas costas, típica de quem entra para o exército, para que o cabelo não atrapalhe em momentos de tensão. Cada vez que ela vira seu rosto claro para o céu pode-se notar seus belos olhos de luz azulada, típica dos membros de sua raça, primos distantes dos elfos, seres de origem feérica, residentes por muito tempo do Reino das Fadas, os eladrin. Mas além de sua formosura física, o que mais atrai os olhares das pessoas sobre ela é o fato de carregar dois símbolos sagrados, um enorme emblema de Bahamut nas costas e um Ankh negro na gargantilha.


Hector sente-se ofuscado pela luz que ela irradia. Escondido em seus mantos negros, nem sua raça pode ser distinguida, mas o sotaque élfico é evidente, e os seus olhos não mentem, pelo menos nas poucas vezes em que podem ser vistos.


— Bela não? — Aelar quebra o silêncio entre eles.


— Eu não gosto de eladrins, senhor Aelar. — murmura calmamente Hector, enquanto observa a garota.


— Agora consigo entender porque os bruxos do rei são tão mal vistos. — diz o paladino, enquanto abre seu livro de orações.


— Algo de errado em não ver graça nas coisas brilhantes e saltitantes? — pergunta Hector tranquilamente, baixando os olhos para seus pés.


— Ora garoto, embora eu não goste de matar, tenho de fazê-lo às vezes, para proteger quem desejo. Do mesmo modo deves recorrer à luz brilhante às vezes. Nesta vida temos de trilhar caminhos que não condizem com o que gostamos ou queremos para nós, para que possamos cumprir nossas verdadeiras metas. — concluiu Aelar, de modo como a ensinar a um filho.


— Se você já esteve em combate real, porque está entre os cadetes? — pergunta o bruxo, parecendo realmente interessado — Vejo que você já é experiente, não me engana senhor.


— Minha experiência é como guardião, e não como soldado. — Aelar respondeu-lhe diretamente, sem nem mesmo pensar — Já tenho experiência em combate, mas não tenho uma formação oficial, então não pretendo burlar a lei, só por já ter um bom conhecimento.


—Belas palavras senhor, a conversa está realmente agradável, mas devo ir agora. Logo é a hora da reunião e não quero deixar nada pra fazer aqui. — diz Hector, já se despedindo.


Aelar termina suas orações após a saída do bruxo e em seguida também se dirige ao local da reunião, com o sol já a um terço do curso diário.


Não muito mais tarde na sala de reuniões.


Chega à sala de reunião o instrutor, sala esta na qual já esperam os cadetes ansiosos por estarem tão próximos do momento de suas formaturas na academia. O instrutor usa um uniforme comum de Fovoham e olha atentamente os quatro jovens na sala, Orpheus, Aelar, Hector e a eladrin. Ele apressa-se em iniciar seu discurso:


— Vocês devem estar orgulhosos de si mesmos! Completando a sua vida acadêmica e se tornando soldados da província de Fovoham. E a última missão de vocês como cadetes, a missão que irá sagrá-los realmente como soldados da nossa bela Fovoham, será de extrema importância para o futuro da província. Vocês devem seguir com os cavaleiros Kamyuja até Yardow, a cidade fortificada a leste daqui, então de lá, vocês seguirão até a Colina de Grog, na fronteira com a província de Lesalia, onde vocês encontrarão e escoltarão o Duque Belchior até aqui.


— Os cavaleiros Kamyuja! — exclama Aelar, com admiração visível em seu olhar — Será uma grande honra viajar juntamente com os grandes cavaleiros protetores da província.


— O duque é um membro importante da nobreza de Lesalia, e ele traz informações da guerra que está por vir entre Gallione e Zeltennia, talvez até mesmo uma forma de impedi-la. — continua o instrutor, após a breve interrupção do paladino Aelar — É de suma importância que ele chegue até aqui em Riovanes em segurança, pois é muito provável que soldados de Gallione se infiltrem na nossa província para tentar seqüestrá-lo, e caso isso aconteça, o regente de Lesalia pode pensar que estamos do lado de Gallione, e declarar guerra contra nós. Além disso, outros podem tentar seqüestrar o duque para conseguir resgate, e isso não é bom de forma alguma. Os cavaleiros Kamyuja serão seus superiores nessa missão, e vocês devem obedecer às ordens deles sem questionar. Arrumem suas coisas e estejam no portão da cidade amanhã às 9 horas.


— Bem, acho que isso é tudo, instrutor Dereck. Você já pode dispensá-los agora. — diz uma exótica, embora bela moça com traços infernais,jovem de corpo formoso e escultural, cabelos negros azulados caindo livremente em seu corpo até a altura do busto, olhos negros decididos e imponentes, chifres pequenos curvados para trás com leves detalhes em relevo de temática arcana, de mantos azuis e um grande livro no braço que entra na sala.


— Ah! Senhorita Fillia, que bom vê-la. — cumprimenta o instrutor Dereck — E aos senhores, esta é Fillia, ela é uma maga e irá acompanhá-los, para dar-lhes suporte. Ela se formou pela Academia no ano passado, então ainda é praticamente uma novata, como vocês, mas com certeza será de grande ajuda para a missão.


—É isso mesmo, esta com certeza será uma boa campanha. — anui a maga, olhando para todos atenciosamente e estudando as suas capacidades — Aguardo a todos amanhã no portão da cidade.


Todos saem calmamente, sem muito contato verbal. Graças à boa disciplina, todos sabem exatamente o que fazer, ou pelo menos passam essa idéia.


A noite passa tranquilamente na academia, embora os formandos estejam nervosos com a missão que os consagrará como soldados de Fovoham.


No dia seguinte, os jovens se encontram com quatro cavaleiros Kamyuja em frente ao portão da cidade. O primeiro que pode ser notado é Alvir, o cavaleiro comandante, um homem alto e coberto inteiramente de metal, com sua armadura resplendorosa cobrindo cada parte do seu corpo e lhe dando um aspecto imponente. Junto com ele estão Hofel e Liandra, poderosos irmãos guerreiros, mestres de suas espadas. Ambos são draconianos, tem pele avermelhada, e olhos esverdeados. Enquanto Hofel parece não levar nada a sério, sua irmã é contemplativa e austera. A última cavaleira é Sunnia, uma poderosa maga de batalha. Seus traços de eladrin são fortes, ela tem olhos de um azul brilhante, sem íris, longos cabelos prateados, e emana uma inteligência muito superior. Todos estão montados em chocobos e parecem apenas esperar que os cinco cheguem. Quando os nove se reúnem no portão, Alvir quebra o silêncio que permeia o local:


— Vocês devem ser cadetes que irão conosco dar as boas-vindas ao Duque Belquior!


— Sim, somos nós, senhor, e já estamos prontos para partir ao seu comando, senhor. — diz Orpheus, com toda formalidade que lhe foi ensinada.


— Ha ha ha! — ri Sunnia, guiando seu chocobo para perto do comandante — Não precisam temer o Alvir, ele parece diabólico, mas é um bom homem. Não há necessidade de tanta formalidade, então nada de terminar as suas frases com senhor, apenas o respeito clássico já nos é o suficiente.


— Bem, infelizmente os cadetes não podem montar chocobos, então teremos que ir devagar, com vocês seguindo a pé mesmo. — completa Alvir.


— Que saco, pra ajudar, sem montaria ainda. — sussurra o jovem Hector para si mesmo, visivelmente incomodado com o fato.


Começam a caminhar, seguindo em direção à cidade fortificada Yardow, passando por vários campos limpos, montes e algumas fazendas, embora na maior parte do tempo apenas os pastos e os poucos animais selvagens que se alimentam destes possam ser vistos. Algumas vezes, Hector trocava palavras com Aelar, e Orpheus perguntava questões complexas à Sunnia, que respondia alegremente, como a um discípulo, embora o mais notório fosse o fato de que Fillia era a discípula de Sunnia, mas esta nunca perguntava nada ou sequer falava. Poucas vezes, quando o grupo parava, a tiefling ainda trocava algumas palavras com os companheiros.


— Hei senhorita, já que você vai nos auxiliar com orientação e magia divina, que tal dizer seu nome? — Aelar pergunta euforicamente à eladrin loira com os dois símbolos sagrados, durante a primeira noite de caminhada.


— É mesmo, nem nos apresentamos formalmente ainda! — recorda Hector, vindo mais atrás.


— Prazer, Orpheus é meu nome! — se apresenta o guerreiro — Venho da capital, sou um discípulo de cavaleiro místico!


— O prazer é meu Orpheus. — segue o bruxo, se apresentando também — Sou Hector, um bruxo dos subúrbios. Pretendo servir aos bruxos do rei um dia, ou ao menos algo próximo já me basta, e aos outros, desculpem meu mau humor, de onde venho as coisas não são divertidas.


— Sou Fillia, das planícies, — a maga é a próxima nas apresentações — mas tive sorte ao ser escolhida por Sunnia com sua discípula. Vivi algum tempo na capital até então, sou uma péssima maga, mas espero sinceramente ser útil, há! Há! Há! — completa ela, tentando ser engraçada.


— Acho que te treinei bem Fillia, não vejo o porquê do péssimo na sua frase. — diz Completou Sunnia, parecendo incomodada com o estranho senso de humor da discípula.


— Eu sou um humilde devoto de Pelor, Aelar dos guerreiros santos do deus sol. — se apresenta orgulhosamente o paladino — Espero que meu escudo sirva bem a causa de nosso rei.


— Bem, sou Agrias, clériga do monastério Hyral próximo ao castelo de sua majestade. — se apresenta por último a jovem eladrin — Assim como o senhor Aelar, sirvo ao deus de sua majestade, senhor Bahamut, protetor dos justos e honrados.


— Ótimo, agora pelo menos estão apresentados, espero que guardem os nomes. — diz Alvir, estranhando o fato de os cadetes não se conhecerem e não terem se apresentado antes.


— Uma questão senhor Alvir, como fomos selecionados para essa missão? Aleatoriamente? — pergunta curiosamente Orpheus.


— Foram selecionados pelo seu desempenho. — responde o comandante, sério — Eu não tive participação direta, apenas pedi os melhores cadetes, afinal é uma missão importante, mesmo para nós cavaleiros.


— Eu mesma fiz a observação, e confirmo Alvir que estes são os melhores. — confirma Liandra, seriamente.


— Fora o fato de que somos os únicos cadetes que estão se formando nesse momento. — murmura Hector, pensando alto — Desempenho? Pura besteira.


— Disse alguma coisa Hector? — pergunta Aelar.


— Nada não, foram apenas pensamentos que me escaparam. — responde o bruxo, fechando-se em seu manto.


— Alvir, chega por hoje, vamos acampar aqui. — diz Hofel, olhando para os cadetes cansados.


— É mesmo Hofel, é melhor pararmos para descansar. —concorda Alvir.


Após acamparem e jantarem, os cadetes começam a preparar suas tendas, mas os cavaleiros montam em seus chocobos. Os cadetes olham inquietos para os cavaleiros. Então Sunnia explica:


— Nós vamos até um acampamento dos cavaleiros ao sul para ver se eles têm novidades sobre os ataques de Gallione. Devemos voltar ainda hoje. Caso não consigamos voltar, vocês devem seguir até Yardow pela manhã, e esperar para que nos encontremos lá na hospedaria Vento do Norte. — instrui a maga, com um tom mais sério na voz.


Os cavaleiros partem em direção ao sul, e os cadetes terminam de montar suas tendas para irem dormir. Algum tempo após os cavaleiros saírem, os jovens ouvem algumas vozes estranhas falando em um idioma gutural. Quando eles dão por si, percebem que estão cercados por goblins, criaturas vis que adoram assaltar viajantes incautos em busca dos seus pertences. Sete deles cercam o acampamento com armas já em punhos, e pelo jeito, eles não vão se importar em ter que matá-los.


O grupo rapidamente assume uma posição defensiva, formam um circulo, mas os goblins têm a vantagem numérica, o que torna o combate muito difícil e perigoso. Então Aelar diz:


— Acalmem-se, vocês que não tem armaduras fiquem no meio. Orpheus, eu e você protegemos cada um, um lado. Agrias... — Mas ele é interrompido em meio as suas instruções. Os goblins realmente não querem conversa e avançam de todos os lados. Primeiro vieram contra Orpheus, e ele investiu desajeitadamente contra os três goblins. Mas quando se dá conta, eles caem sobre uma fina camada de gelo que se formou no chão abaixo deles. Orpheus olha para trás, era magia de Fillia, muito bem colocada por sinal. Ele dá mais uns passos e enterra sua espada no primeiro goblin, depois troca uns golpes com o outro ainda no chão, quase escorregando também no gelo.


Do outro lado avançam mais dois goblins com adagas, sendo estes mais ágeis que os demais. Eles avançam fazendo manobras confusas para evitar o escudo de Aelar, mas esse consegue acertar seu escudo em um deles, caindo sobre ele e cortando sua garganta rapidamente. Para Aelar era normal matar goblins e ele não sente remorso, mas quando vê, o outro já lhe acertou uma estocada no ombro, através de sua fraca armadura, o que também não ficaria por menos. Antes que ele pudesse se aproveitar novamente de Aelar, ele sente calafrios e se contorce até parar de se mexer e cair como uma pedra ao lado do paladino.


Outros dois correm pelos flancos, aproveitando que os defensores estão ocupados, Aelar caído e Orpheus engajado com os primeiros que atacaram. Um dos dois é parado pela direita por Agrias, que troca uns golpes de espada contra a pequena clava dele, mas perde sua espada no fim. Ela treme diante da situação, mas ainda no desespero consegue fazer uma prece e conjurar uma rajada de luz sobre o goblin, que é o suficiente para que Fillia note a situação e use em conjunto suas esferas de energia, arrancando a arma do goblin, que recua e foge do combate.


O último goblin vai em direção ao jovem bruxo e este sai correndo e esconde-se na tenda. O goblin inocentemente vai atrás, mas apenas ouve uns murmúrios, e nem chega a ver o bruxo, nem mais ninguém, pois cai morto, atingido em cheio pelo ataque mágico do bruxo.


Algum tempo leva o combate, mas finalmente Orpheus supera o goblin e o mata com um corte profundo no peito, trespassando sua armadura de couro já desgastada.


O outro tenta contornar o gelo, mas quando vê o bruxo voltar ao campo com força total, desiste. Ele se vira, mas não tem tempo para mais nada, pois Orpheus o fita com olhos de energia sem pupila, então parte o crânio dele em dois. Apesar do nojo ao ver o sangue jorrar, ele não tem misericórdia alguma, era ele ou o goblin.


Alguns segundos se passam em silêncio, até que Aelar reclama do golpe que havia sofrido:


— Droga, pelas escamas de Bahamuth, preciso de uma armadura melhor! — reclama ele, embora um tanto entusiasmado com a vitória.


— Calma Aelar, eu te ajudo. — diz Agrias, se aproximando.


Agrias passa levemente sua mão por cima do ombro ferido de Aelar. Era a primeira vez que ela havia estado em um combate, ela tremia, quase urinou de medo, mas agora estava mais segura. Alguns momentos mais, e com uma prece, ela invoca uma luz azulada que purifica a carne e fecha o corte, sem deixar nem sequer uma cicatriz. Agrias ainda com a mão dolorida, pega sua espada que havia sido arremessada.


— Droga! —pragueja Hector, com terror na voz.


Quando todos olham para Hector, vêem também vários goblins vindo da floresta, a uns duzentos metros do acampamento aproximadamente. Junto a eles, grandes besouros que ardem como tochas, provavelmente crias do inferno. Aelar sinaliza para que corram por suas vidas:


— Venham, venham! Por aqui! — grita o paladino, levando-os em direção a Yardow.


Eles correram, mas depois de alguns minutos se deparam com uma caverna. Sem nem pensar o paladino os guia para dentro dela e eles seguem pelo túnel que ela forma. Depois de algum tempo, parece que os goblins não foram espertos o suficientes para perceber a caverna, mas quando Hector vai espiar, nota que eles ainda estão patrulhando patrulhavam, apenas não entraram na caverna. Hector então volta e conta para o grupo o que viu, perdido em pensamentos.


— Temos que continuar seguindo esse túnel, não temos outra opção. — decide Orpheus — Talvez haja alguma outra saída!


— Será melhor que enfrentar os goblins. — concorda Hector, ainda pensativo.


— Mas é impossível que os goblins não tenham visto essa caverna. — Fillia murmura para o bruxo — Eles devem ter algum motivo para não ter entrado aqui. — Hector apenas concorda com a cabeça.


Todos olham para o paladino, esperando para saber a opinião dele, menos Agrias, que olhava para o chão, cansada ainda da corrida.


— Então vamos seguir, o que mais podemos fazer? — diz finalmente Aelar — Me ajude com a vanguarda Orpheus, não creio que esteja desabitada esta caverna. Algum motivo estes goblins têm para não entrar aqui. — O bruxo e a maga se surpreendem com a perspicácia do paladino, ao pensar da mesma forma que eles.


Fillia olha para a pobre Agrias, amedrontada e então se põe a falar:


— Calma, precisamos agora da querida Agrias, sem suas mãos santas nem sonhamos em continuar. Acho que devíamos deixá-la descansar um pouco antes de prosseguirmos.


— Meu ombro está uma maravilha senhorita, que mãos, que mãos! Muito obrigado! — agradece Aelar, com uma mesura.


Orpheus dá um sorriso para a clériga e com pouco de esforço, mas com bons motivos, até o jovem bruxo dá um tapinha cordial em Agrias.


Agrias olhando todos tão bem humorados, se levanta e se recompõe , dando total certeza aos outros de sua vontade de ser útil. Eles descansam mais um pouco, então Aelar se levanta:


— É isso ai pessoal, chega de folga, vamos seguir em frente, quer dizer, antes vamos acender uma luz, porque para lá está escuro por demais!


— Certo, aqui está! — disse Fillia, conjurando uma esfera de luz na espada de Aelar.

— Só mais uma coisa pessoal. — comentou Agrias, serenamente. Todos voltam-se para ela curiosos. Ela continua sorrindo — Obrigada.

domingo, 1 de abril de 2012

Um Sonho Indicativo


Acordei. Senti o peso da queda. Mas era a Queda, aquela diferente. Estava só em uma rua enevoada. Sentia o frio cortar a alma e medo daquele clima amarelado em uma noite desconfortável. Olhei a minha volta. Uma rua larga, postes de luzes que davam o tom amarelo a nevoa e uma casa estranha de madeira. Entrei.

No seu interior era desconfortável. Lembrava a aquelas casas centenárias cujo teto precisa ser escorado em algumas vigas improvisadas para não cair. Andei. Luzes, não haveria se não houvesse alguém ali. Então passei a caminhar em passos curtos de receio, com aquele leve gosto de medo na boca. Aquele gosto que faz secar sua garganta quando seu corpo sente um futuro momento de desespero. Vi então um lance de escadas que desciam para algum lugar. Escuridão no fim do curso. Hesitei. Na pura falta de bom senso comecei lentamente a descer. Porque simplesmente nessas horas você se pergunta o que faz ali. Como eu não sabia o que fazia ali, então eu continuei. Mas talvez se soubesse, teria saído correndo, pois teria o que ponderar. O caminho até que era curto, menos degraus do que parecia. Então parei ante uma porta grande de madeira. Fiquei um momento contemplando enquanto me sentia num jogo, daqueles onde o protagonista entre em masmorras para buscar artefatos antigos. Senti uma centelha de confiança e continuei para além da porta.

Saí num pátio, e dos grandes, com toda aquela neblina e umas poucas arandelas muito antigas a iluminar o lugar em alguns cantos. Andei então, para reconhecer o lugar. Era imenso e solitário. Chão batido, sem gramado e nem se quer um móvel ou brinquedo para alguma criança. Andei até o outro lado. Aproximei-me do que seria uma cerca, daquelas de madeira. Olhei além, mais uma casa talvez, uma pequena ponte por cima de um lago de água escura, provavelmente a casa de algum rico egocêntrico do lugar, ou melhor, o pátio dele. Então dei uma ultima olhada para lá e me virei para ir embora. Tensão. Senti uma presença na casa, definitivamente havia algo ruim lá. Tudo naquela direção pareceu meio aterrador. Voltei-me para a cerca. Olhei novamente, agora havia o que ponderar. Nenhum dos dois lugares era agradável. Parei para pensar, senti então a presença de uma garota, na verdade, vi sua silhueta escura no pátio à frente. Lembrei-me de minha determinação treinada, como daqueles garotos que esperam um apocalipse zumbi, e não perdem isso na vida adulta. Escolhi então.

Andava agora pelas pontes que cruzavam uma lagoa de águas negras. Medo. Sentia um medo forte da água negra. Pois é como olhar para aqueles vidros de filme policial, na salinha do interrogatório, você sabe que há algo ali do outro lado te observando. Andei mais rápido. Passei por entre arbustos, e continuei, mesmo com eles começando a tomar formas quase humanas. Mesmo quando eles pareciam querer me devorar, ainda andei mais rápido. Sentia agora o cheiro, o cheiro da pessoa. A névoa era espessa naquele ponto, quase me tirando toda a visibilidade. Confiei nos passos cegos e temerosos para continuar. Andei mais lentamente. Os arbustos acabaram. Agora estava diante de alguma construção. A esta altura da caminhada, nem me lembrei de ponderar.
Continuei meu caminho até que a nevoa começou a desparecer. Passos com mais calma. Cansado. Andei até uma grande parede com uma porta. Como se estivesse para entrar num castelo gigante por uma passagem no muro. Continuei, abrindo a porta e descobrindo o outro lado. Uma nova realidade.

Calmamente meus olhos se adaptavam a nova realidade, parado diante de uma rua com postes e luzes claras. Sem nevoas desta vez. Do outro lado, sob o luar calmo uma casa. Uma casa comum, de alvenaria, com luzes e vozes comuns. Alivio. Andei até lá, alguma pessoas me olhavam, como se fosse eu algum convidado. Continuei. Passei por duas garotas de sues doze anos e um menino do qual elas cuidavam. Passei e olhei alguns casais na lateral direita, numa área aberta, conversando sobre assuntos diversos. Olhei no fundo de uma garagem, uma garota loira e um rapaz de cabelos encaracolados de minha altura ou perto disso. Andei mais, cheguei perto de um senhor perto de uma mulher de costas para mim. Ele me encarava e analisava cada detalhe de minha alma. Ele estava cortando algumas carnes. Lembrei que por acaso não sentia fome. Ignorei alguns detalhes. Passei por uma moça sentada de cabeça baixa e com corpo parcialmente voltado para o outro lado. Cheguei ao lado daquele senhor. E minha realidade mudava mais uma vez. Surpresa.

O senhor me olhou e me deu um oi parcialmente convidativo e parcialmente analítico. Senti-me então bem, convidado. Olhei para trás, para analisar a tal festa, lembrei que conhecia aquele lugar. Lembrei que não pelos meus olhos, mas por alguém. Tarde demais para saber de quem era a lembrança, a pessoa estava ali. A silhueta, o cheiro, a lembrança, eram tudo parte do cenário da vida daquela pessoa. A moça antes sentada e de corpo virado que eu havia ignorado, me olhava com sorriso animado. Surpreso, não me movi. Fiquei parado observando ela lentamente levantar, ajeitar seus cabelos negros e lisos, ajustar o vestido que usava uma espécie de vestido rosado com bordados, comum para festas em família. Ela sorria e segurava em minha mão. Para então me dizer co ma voz mais doce do mundo. – Eu sabia que você viria, esperei por muito tempo sem nada poder fazer, mas sabia que viria.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Estranho Sabor de Amizade


Estranha vontade brota-me do peito
Ardendo em brasa mal acabada
Saltando na forma de sentimento que no peito se aninha
Nasce em mim mais pura vontade
De em vastidões áridas colher maldades
Só para a em seu lugar plantar virtudes e bondades.

Eis aqui então num mundo preto por branco
Onde o homem come barro e vê mel na boca de seu semelhante
Tamanha cor brilhante que até o branco sente inveja ofuscante
Cercado de sol, calor e cheiro oníricos.
Coroado com botões de rosas cintilantes
Seus lábios num sorriso atordoante
Acompanhados de um abraço extasiante.

Você em mim como eu em você
Longe das malicias viventes em cada ser
Andamos juntos ainda que distantes
Protegidos por um sorriso protetor
Que não se vê nos lábios de um amante.

Um sorriso zeloso que nosso amor manteve como brasa
Por toda a vida e além das fábulas
Uma Amizade revigorante
Que lembro a mim, todo instante.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Coisas para ler em qualquer ordem...

Eles zombaram de minhas idéias,

Eles disseram que eu estava louco,

Eu disse que daria certo,

Eles esperaram eu morrer,

Agora você vive as minhas idéias.

O Jovem e o Mestre #1

          Era uma manhã fria. Daquelas que as pessoas preferem ficar em baixo das cobertas. Simon saiu de casa pouco agasalhado. Era fato que não sentia muito frio. O cão de seu mestre estava próximo, numa espécie de cabana improvisada. A idéia era boa, mas o cão ainda passava frio. Com passos calmos, Simon caminhou até lá e ficou analisando a estrutura por um momento. E juntamente sem a percepção de Simon, seu mestre o analisava de dentro do casebre que o mesmo chamava de alojamento.

          O garoto deu algumas voltas e murmurava idéias que logo morriam. Ele planejava e arquitetava algo simples e que pudesse manter o animal confortável. E por mais absurdas as idéias que lhe vinha, ele havia se apegado a sua primeira, mandar o cachorro para dentro da casa do mestre. Decidiu por fim ir ter com o mestre.

          Parado em frente à porta do grande mestre, com apenas suas pernas finas e de poucos verões ele tomou coragem. Sem muito que hesitar, ele bate a porta. Alguns momentos de espera e reflexão das palavras. Então a porta finalmente se abria para ele. Era o seu mestre, com sua evidente barriga e estatura baixa, por onde caia uma bela barba até a altura do umbigo.

- Que queres tu, Simon? É manhã ainda.

- Senhor, estive observando seu cachorro...

- Lobo.

-Lobo? Isso! Então, estive observando ele e não parece agradável para ele esta casa que você fez.

- Simon, ele não é um lobo?

- Sim, ele é. O senhor mesmo o disse.

- Acha que ele morreria no habitat natural ele?

- O que é habitat, mestre?

- O lugar onde ele vive. Onde sua espécie costuma viver.

- Acho que vive bem então. Mas porque ele fica com essa aparência inquieta?

- Não é porque somos fortes que não sentimos dor ou nos tornamos invencíveis, simplesmente temos uma chance maior de enfrentar tais situações. E também, ele sabe que deve manter-se ali, ou por fim caíra doente na primeira viagem que fizer na neve.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O Problema sem Solução

E então alguém me diga!

Qual o problema com a nação?

Os malditos vêm e os bons se vão?

Alguém me diga!

Qual o problema da nação?



Vivemos a vida em plena ilusão,

E alguns ainda continuam lutando,

Mas outros já pararam.



E então? Qual o problema da nação?

Para aonde vai essa multidão?

Sangrando e sorrindo diante da aniquilação.

Povo em desordem e ilusão!

Alguém salve esta nação!



Enquanto mães choram,

Seus filhos matam seus irmãos.

Esta sim é nossa nação.

Vivendo numa plena ilusão!



Realidade carmim e felicidade aparente,

Sangrando e sorrindo diante da aniquilação.

E então alguém me diga!

Qual o problema com a nação?